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Catedral Angelopolitana de Santo Ângelo

Mais do que uma igreja, a Catedral Angelopolitana de Santo Ângelo é um monumento da fé missioneira.

Não sei já comentei por, aqui mas sou nascida na região noroeste do Rio Grande do Sul e já morei em várias cidades do estado, entre elas Santo Ângelo. A Capital das Missões foi palco de um dos períodos históricos mais importantes do sul do país, e que infelizmente não é conhecido por muitas pessoas.

Mas como sempre que vou ao Brasil viajo para esta região, decidi compartilhar aqui um pouco da história da região, trazendo imagens e história da Catedral Angelopolitana de Santo Ângelo. Infelizmente já passou uma década da última vez que visitei as Missões Jesuíticas de São Miguel – um dos sítios arqueológicos mais importantes e antigos do Brasil – mas vou trazer um pouco da história dos Sete Povos das Missões nessa região da América do Sul. Até para contextualizar a existência dessa igreja tão significativa.

Sete Povos das Missões – história resumida

Sete Povos das Missões é o nome que se deu ao conjunto de sete aldeamentos indígenas fundados por padres Jesuítas espanhóis na região antes denominada “Rio Grande de São Pedro”, atual estado do Rio Grande do Sul. Era composto pelas reduções de (em ordem de fundação) São Francisco de Borja, São Nicolau, São Miguel Arcanjo, São Lourenço Mártir, São Luiz Gonzaga e Santo Ângelo Custódio. Também eram conhecidos como Missões Orientais, por estarem localizados a leste do Rio Uruguai.

Os Sete Povos foram fundados no final da onda colonizadora jesuíta na região, depois de terem sido fundadas dezoito reduções (em período anterior) nesta mesma região. A partir de 1682 os Jesuítas começaram a voltar para as suas antigas terras, e neste mesmo ano foi fundado o primeiro dos Sete Povos: São Francisco de Borja, seguido por São Nicolau, São Luiz Gonzaga e São Miguel.

Abaixo, fotos da redução de São Miguel das Missões:

Os Sete Povos das Missões

São Francisco de Borja – a primeira redução a ser fundada, foi fruto do trabalho do Pe. Francisco Garcia era uma extensão da redução de São Tomé (na Argentina) de onde saíram 195 pessoas. Em 1707 contava com 2814 habitantes e dela nasceu a cidade de São Borja.

São Luiz Gonzaga – a origem desta segunda redução está na transferência, em 1687, de 2.922 pessoas que antes habitavam as reduções de São Joaquim e Santa Tereza. O Padre Alfonso del Castillo, a maior liderança dos organizadores dos 7 Povos das Missões. Em 1707 sua população se havia reduzido para 1.997 pessoas. Foi a origem a cidade de São Luiz Gonzaga.

São Nicolau – sua população antigamente habitava este mesmo local, na redução fundada pelo padre Roque Gonzales em 1626, mas havia sido expulsa pelos ataques dos bandeirantes de Francisco Bueno. Mudaram para a Argentina e fundaram a redução dos Apóstolos, para onde afluíram refugiados também da redução de Tapes. Em 1687 estes povos se uniram e voltaram ao Rio Grande do Sul, e refundaram São Nicolau em 2 de fevereiro.

Este renascimento foi marcado por um ciclone e um incêndio, desastres que destruíram boa parte das instalações que já existiam no lugar, incluindo a igreja. Mas logo a redução voltou a se recompor, reconstruindo o templo de pedra sob a orientação do padre Anselmo de la Matta. Chegou a contar com 7.751 habitantes em 1732, e deu origem à cidade de São Nicolau.

São Miguel Arcanjo – seu primeiro fundador foi o padre Cristóvão de Mendonça, em 1632, que também sofreu com os ataques bandeirantes. Ele então abandonou o local com os índios e se refugiaram em Concepción no Paraguai. Retornaram em 1687, com o deslocamento de 4.195 pessoas. E três anos depois já estava quase completa, com a casa dos padres construída e cem outras para os índios, além de edifícios funcionais.

Em 1697 São Miguel foi dividida, e 2.832 pessoas que faziam parte dela partiram para fundar a redução de São João Batista. Em 1707 possuía 3.110 habitantes. A igreja foi obra do padre João Batista Primoli, que de 1735 a 1744 a levantou empregando somente operários indígenas.

Suas ruínas são ainda visíveis nos dias de hoje, em área pertencente ao município de São Miguel das Missões, sendo este o mais importante sítio arqueológico do Rio Grande do Sul, tendo sido declarado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, junto com outras ruínas de reduções Jesuíticas no Paraguai, Argentina e Bolívia.

São Lourenço Mártir – foi fundada em 1690 por nativos de Santa Maria Maior, descendentes dos fugitivos de Guaíra, que se instalaram no local liderados pelo padre Bernardo de La Veja. Em 1731 habitavam no local 6.400 pessoas. Seus remanescentes estão localizados em São Lourenço das Missões, parte do município de São Luiz Gonzaga.

São João Batista – fundada pelo padre Antônio Sepp, que dominava música, arquitetura, urbanismo, pintura e escultura. Ele foi seguido por 2.832 pessoas que antes viviam na redução de São Miguel. Os trabalhos na igreja iniciaram em 1708, quando já havia 3.400 pessoas habitando o aldeamento. Sob orientação de Sepp esta redução mostrou alto nível de atividade cultural. Suas ruínas se localizam na cidade de Vitória das Missões.

Sepp também foi um geólogo e minerador, extraindo o primeiro ferro da região das Missões, fazendo instrumentos variados e até os sinos da igreja do local. Sua obra-prima foi o relógio instalado no campanário da igreja da redução, que, ao dar as horas, fazia desfilar pelo os 12 Apóstolos.

Santo Ângelo Custódio – sua população anteriormente habitara Concepción, passara pela cidade de Ijuí e por fim se fixou onde hoje é a cidade de Santo Ângelo, em 1707, com 2.879 pessoas sob o comando do padre Diogo de Hasse.

Declínio dos Sete Povos das Missões

No século 18, a região estava sob disputa entre Espanha e Portugal. O Tratado de Madri de 1750 havia colocado a área à disposição de Portugal em troca da Colônia do Sacramento, e a saída dos Jesuítas espanhóis foi decretada. Mas este Tratado um conflito, pois nem padres nem índios queriam abandonar suas reduções, nem os portugueses queriam abrir mão da Colônia do Sacramento. Houve uma série de confrontos armados que culminaram na Guerra Guaranítica.

Com a intensa rejeição que os Jesuítas sofreram a partir de meados do século 18, a Companhia de Jesus foi expulsa de terras portuguesas em 1759, e em 1767 das terras espanholas. No ano seguinte todas as reduções foram esvaziadas, com a retirada final dos Jesuítas. As terras que eles ocupavam foram apossadas pelos espanhóis e os índios foram subjugados ou dispersos.

Quando no ano de 1801 eclodiu uma nova guerra entre Portugal e Espanha, os Sete Povos já estavam em tal estado de desintegração que com apenas 40 homens, Manuel dos Santos Pedroso e José Borges do Canto conseguiram conquistá-los para Portugal, embora pareça ter havido a participação indígena como facilitadora da tomada de posse. Depois disso Portugal anexou o território ao Rio Grande do Sul, instalando um governo militar na região, encerrando todo um ciclo civilizatório e dando início a outro.

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Sobre a Catedral Angelopolitana de Santo Ângelo

Catedral Angelopolitana, em homenagem ao Santo Anjo da Guarda, principal igreja de Santo Ângelo, é a principal atração turística da cidade e sede da Diocese da região. Além de arquitetura belíssima, tem uma história mais longa do que suas paredes atuais.

O início das obras do atual tempo data de 1929 e seu estilo remete ao templo da redução de São Miguel Arcanjo. É uma igreja de estilo revivalista, seguindo muitos dos preceitos estabelecidos pelo barroco colonial hispânico. Está localizada no mesmo lugar onde existiu a igreja da redução de Santo Ângelo Custódio. O alto do pórtico tem imagens esculpidas em pedra grês, representando os santos padroeiros dos Sete Povos das Missões: São Borja, São Nicolau, São Luiz Gonzaga, São João Batista, São Lourenço Mártir, São Miguel Arcanjo e Santo Ângelo Custódio (Santo Anjo da Guarda).

No seu interior, abriga uma imagem em madeira de Cristo morto, que tem origem missioneira (= foi fabricada em uma das antigas reduções jesuíticas), em tamanho natural, datada de 1740 e esculpida em cedro.

No espaço atualmente ocupado pela Catedral Angelopolitana, já existiram duas outras igrejas. A primeira data de 1706, ano de fundação da na Redução de San Ángel Custódio (nome em espanhol para a antiga redução). Em uma gravura datada de 1860, percebe-se seu avançado grau de destruição e abandono.

As três igrejas que já existiram no local:

Os remanescentes arquitetônicos do antigo templo da redução foram reutilizados na construção de uma nova igreja, a segunda no mesmo local. Esta começou a ser erigida em 21 de novembro de 1888. Nessa data foi colocada a sua pedra fundamental, contando com a presença de diversas autoridades.

A ideia de substituir a segunda igreja pela atual Catedral surgiu em 1920. O objetivo era edificar um templo que tomasse por base o estilo da antiga igreja da Redução de São Miguel Arcanjo. Em setembro de 1929 foi instalada a pedra fundamental da nova obra. Por volta de 1955, chegavam ao fim as transformações da fachada da igreja, sob orientação do escultor e arquiteto austríaco Valentin Von Adamovich. Mas somente no ano de 1971 é que as torres ficaram prontas.

Em 2006, foram feitas escavações arqueológicas em torno da Catedral e na Praça Pinheiro Machado. As escavações demonstraram a existência de inúmeros materiais utilizados no tempo da redução jesuítica. Além disso, foi descoberto parte do piso da redução e principalmente, o fato de que a primeira igreja era muito maior que a atual. Detalhes sobre os resquícios da construção original podem ser encontrados em placas do museu a céu aberto.

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Aos interessados em fazer um tour para conhecer as ruínas históricas das Missões, segue o link para o site do Rota Missões.

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Para conferir outros posts de dicas de viagem no Brasil, acompanhe esta tag aqui! Ainda não tem muita coisa, mas prometo atualizar em breve!

One thought on “Catedral Angelopolitana de Santo Ângelo

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