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Bélgica, Viagem

Visita a Abadia de Orval em Florenville

A Orval é uma das icônicas cervejarias trapistas belgas. Neste post tem dica para conhecer o local onde ela é produzida e opção de restaurante perto da abadia!

A Orval é uma das cervejas trapistas mais apreciadas da Europa e a preferida dos belgas. Cada leva é disputadíssima e, por vezes, é até difícil encontrar no supermercado. As ruínas da abadia do mosteiro antigo podem ser visitadas, mas o mosteiro atual e a cervejaria são abertos ao público apenas em raras ocasiões.

Este post é sobre a visita que fizemos recentemente na Abadia de Orval em Florenville, com dica de onde comer, história e até a lenda que explica sua criação.

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História

Os primeiros monges a se instalarem em Orval chegaram do sul da Itália em 1070. O conde Arnould de Chiny os recebeu e lhes concedeu terras de seu próprio domínio. A construção foi iniciada imediatamente, mas por razões desconhecidas, esses pioneiros se afastaram após cerca de quarenta anos atuando na comunidade. 

Othon, filho de Arnould, substituiu os monges por uma pequena comunidade de cânones que conseguiram concluir as obras iniciadas por seus antecessores. Em 1124, a igreja concluída foi consagrada por Henri de Winton, bispo de Verdun. Logo depois, porém, os Cânones enfrentaram dificuldades econômicas, situação que os levou a solicitar afiliação à Ordem de Cîteaux, na época em plena expansão. 

O pedido foi transmitido a São Bernardo, que o aceitou. Ele confiou o restabelecimento de Orval à casa mais velha, a Abadia de Trois-Fontaines, em Champagne. Em 9 de março de 1132, sete monges sob a liderança de Constantin chegaram a Orval de Trois-Fontaines. Monges e Cânones formaram uma única comunidade e começaram imediatamente a adaptação dos edifícios aos usos cistercienses. A nova igreja foi concluída antes de 1200.

Os cistercienses foram particularmente cuidadosos ao estabelecer uma fazenda e um domínio florestal; essa forma de trabalho lhes permitiu viver de acordo com suas observâncias. A terra imediatamente ao redor do mosteiro, porém, é pobre e inadequada para a agricultura. 

Por cinco séculos, Orval levou uma vida oculta, como tantos outros mosteiros da Ordem. Durante o século XII, a abadia parece ter sido próspera; a partir de meados do século seguinte, as calamidades costumavam ser o seu destino por longos períodos. Em 1252, a abadia foi destruída pelo fogo e as consequências pesaram na comunidade por quase um século. Certos edifícios tiveram que ser totalmente reconstruídos. O estado de miséria era tão grave que, durante algum tempo, as autoridades da Ordem chegaram ao ponto de prever a supressão do mosteiro.

Mas sobreviveu, mesmo durante os séculos 15 e 16, com as guerras travadas entre a França e a Borgonha e mais tarde entre a França e a Espanha (que causaram estragos e devastação em toda a região do Luxemburgo). Nesse difícil contexto, o imperador Charles-Quint mostrou sua bondade ao permitir que uma forja fosse montada na própria terra da abadia. Isso ajudou na sobrevivência do mosteiro, que necessitava então ser reconstruído.

Enquanto o século 17 foi um desastre para os Países Baixos, a Orval viveu seu apogeu. Noviços vieram em grande número; em 1619, a comunidade era composta por 43 membros: 27 monges professos, 8 irmãos leigos e 8 noviços.

Logo após esse período, uma nova catástrofe atingiu a Orval; em agosto de 1637, no auge da Guerra dos Trinta Anos, as tropas do Marechal de ChâtiIlon saquearam e destruíram completamente o mosteiro e suas dependências. A reconstrução ocorreu em um clima de insegurança até o final do século.

De 1668 a 1707, a Orval tinha um grande abade à sua frente, Charles de Bentzeradt, natural de Echternach (Luxemburgo). Este monge austero foi acima de tudo um reformador. Tomando como modelo o que o abade de Rancé havia realizado na abadia de La Trappe, na Normandia, ele estabeleceu a “estrita observância” em seu próprio mosteiro. 

A prosperidade material andava de mãos dadas com o fervor religioso: os domínios agrícola e industrial dos monges continuavam a crescer. Desde o final do século 17 até o meio do século 18, as forjas de Orval foram as pontas de lança da indústria siderúrgica da região.

Das forjas que por muito tempo sustentaram o mosteiro.

A partir de 1760, as receitas foram cedidas principalmente à construção de um novo mosteiro, para o qual os planos haviam sido elaborados pelo arquiteto Laurent-Benoit Dewez. A nova igreja foi consagrada em 1782. Depois disso, o trabalho desacelerou e depois parou por falta de fundos

Em 1789, a Revolução Francesa estourou e todos os bens de Orval do outro lado da fronteira foram imediatamente confiscados. A abadia passou por vários alertas, mais ou menos sérios, até o dia decisivo de 23 de junho de 1793, quando as tropas revolucionárias lideradas pelo general Loison queimaram o mosteiro. Tudo foi destruído. A comunidade retirou-se para seu refúgio em Luxemburgo e depois para o Priorado de Conques. A comunidade foi oficialmente dissolvida em 7 de novembro de 1795.

A imagem sobreviveu ao fogo da Revolução Francesa.

Por mais de um século, as muralhas carbonizadas de Orval ficaram à mercê do clima e dos caçadores de pedras e tesouros.

Em 1926, a família De Harenne ofereceu as ruínas de Orval e a terra circundante à Ordem Cisterciense, para que a vida monástica pudesse ser restabelecida lá. Dom Jean-Baptiste Chautard, abade de Sept-Fons (região Allier da França) assumiu a responsabilidade pela fundação e enviou a Orval um grupo de monges como núcleo da nova comunidade.

As ruínas e a torre do novo mosteiro.

A enorme tarefa de reconstrução foi realizada por Dom Marie-Albert van der Cruyssen, de Ghent, monge da abadia de La Trappe. Muito rapidamente, um novo mosteiro foi construído de acordo com os planos do arquiteto Henry Vaes, e foi erguido sobre as mesmas fundações do mosteiro do século 18. Em 1936, Orval tornou-se uma abadia autônoma.

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A lenda da Abadia de Orval

O mosteiro nasceu de um ato de gratidão: Matilde era uma condessa da Toscana na Itália, viúva que certa vez, de forma acidental, deixou seu anel de casamento cair na fonte onde hoje existe a abadia. Ela rezou e imediatamente uma truta subiu à superfície com o anel precioso na boca. Matilde exclamou: “Realmente este lugar é um Val d’Or!”. Em gratidão, ela decidiu estabelecer um mosteiro no local.

O peixe com um anel na boca é até hoje o símbolo da cerveja Orval.
A fonte Matilde, da qual por muito tempo foi usada a água para a produção da cerveja Orval.

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Sobre a cerveja Orval

Localizada dentro dos limites da Abadia, a Cervejaria Orval foi criada no ano de 1931 para financiar os trabalhos de reconstrução do mosteiro. Foi o mestre cervejeiro Pappenheimer, um leigo, quem desenvolveu a receita que arrebata fãs no mundo inteiro.

O sabor frutado e amargo característico da cerveja Orval significa que ela se tornou uma referência genuína no mundo exclusivo das autênticas cervejas trapistas. É uma cerveja de alta fermentação e o processo de envelhecimento acrescenta uma nota frutada, que atinge um equilíbrio sutil entre o sabor encorpado e complexo, e a amargura da cerveja.

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Como funciona a visita a Orval

A visita permite acesso às ruínas da abadia medieval, o museu lotado nas fundações dos edifícios do século 18, o museu farmacêutico e o jardim de ervas medicinais. Em certas épocas do ano, são realizadas exposições no salão principal da hospedaria medieval.

A visita a cervejaria Orval é possível somente em um dia por ano, onde um número limitado de visitantes é permitido. É preciso entrar em contato com o mosteiro para saber a data das visitas e como você pode entrar na lista dos que poderão visitar. Da minha parte, aconselharia a visita a La Trappe, bem mais democrática e cujo processo certamente não deve ser nada diferente.

Informações sobre ingresso e horários de visita às ruínas, no site oficial. O local também conta com uma loja que vende queijos e outras delícias produzidos no monastério, além das cervejas, é claro!

A abadia fica a 180 km de Bruxelas, e todas as instruções sobre como ir até a Orval também estão disponíveis no site oficial.

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Onde comer

Para degustar uma Orval quase que direto da fonte (além de uma cerveja feita pelos monges e que só se vende on tap e neste local), em frente a entrada da abadia existe o restaurante A l’Ange Gardien. O cardápio pode ser conferido online (sem os preços, que não são caros. Os pratos das fotos abaixo custaram na faixa dos 15 euros), e os pratos variam entre opções tradicionais belgas e outras de origem francesa (já que o mosteiro fica muito próximo da fronteira com a França).

Vários pratos servidos no restaurante levam cerveja da abadia nas suas receitas, além do queijo produzido pelos monges de Orval. Opção perfeita para completar a visita ao local.

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Abadia de Orval

Endereço: Orval 1 – 6823 – Florenville – Bélgica

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Post com explicação sobre o que é e como surgiram as cervejas trapistas, confira aqui.

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